Adis Abeba, Etiópia
Um recente debate acadêmico realizado na Universidade Pan-Africana de Adis Abeba levantou uma questão polêmica e profunda: “Qual é a verdadeira religião dos africanos?” Antropólogos e sociólogos de vários países africanos e estrangeiros discutiram sobre a influência das religiões ocidentais e orientais no continente, e como isso afetou a identidade espiritual dos povos africanos.
Segundo os especialistas, a colonização e a globalização contribuíram para uma ruptura entre os africanos e as suas antigas crenças tradicionais. O professor Samuel Mbaye, antropólogo senegalês, afirmou que “a África foi espiritualmente desfigurada, pois muitas comunidades abandonaram seus cultos ancestrais para adotar religiões importadas, sem compreender totalmente suas raízes originais”.
A socióloga moçambicana Lurdes Nhamuave acrescentou que a questão não se trata apenas de religião, mas de identidade cultural. “Quando um povo perde suas crenças originais, perde também parte da sua visão de mundo, da forma como entende a vida, a morte e a natureza”, explicou.
Alguns estudiosos, no entanto, defendem que o sincretismo religioso — a mistura entre o tradicional e o moderno — é uma forma legítima de evolução espiritual africana. “Os africanos adaptaram as novas crenças ao seu modo de viver, criando uma espiritualidade própria, híbrida, mas ainda essencialmente africana”, destacou o teólogo nigeriano Chukwuemeka Okoro.
O debate permanece aberto, mas a reflexão central é clara: compreender o passado espiritual da África pode ser a chave para resgatar parte da sua verdadeira identidade cultural.
Antropólogos e Sociólogos questionam: “Qual é a verdadeira religião dos africanos?” — Especialistas afirmam que o continente perdeu parte da sua identidade espiritual





Domingos Laimo
Do meu Ponto de Vista:
Tema central: A relação entre religião, identidade cultural e poder político na África, examinando o impacto do colonialismo, da globalização e do sincretismo religioso.
Pergunta norteadora: “Qual é a verdadeira religião dos africanos?” e como diferentes leituras disso refletem mudanças na identidade espiritual e cultural do continente.
Pontos-chave:
Ruptura entre crenças tradicionais e religiões importadas: colonização e globalização contribuíram para afastar populações de seus cultos ancestrais, gerando uma crise de identidade.
Visão crítica da ruptura: alguns especialistas destacam prejuízos à visão de mundo, à vida e à natureza locais, sugerindo que a desassociação com raízes espirituais pode enfraquecer legitimidade cultural.
Sincretismo como resposta criativa: há consenso entre alguns estudiosos de que a mistura entre tradições locais e religiões importadas (cristianismo, islamismo) resulta em uma espiritualidade híbrida, que mantém traços africanos essenciais.
Implicações políticas e culturais: a discussão não é apenas religiosa, mas também sobre identidade cultural, poder de governança, coesão social e estratégias de resistência frente a pressões externas.
Conclusão: compreender o passado espiritual da África é crucial para entender sua identidade cultural contemporânea; o sincretismo pode ser visto como uma forma de resiliência identitária que influencia governança, políticas públicas e relações internacionais.